A pandemia não acabou e por isso esta na hora de voltar a viajar? Com certeza essa é uma das perguntas que a gente mais se faz depois de 6 meses de tentativa de isolamento social. Viajar na pandemia é arriscado não só pra gente como pra quem depende desse mercado mas, como diminuir esses riscos? Como tentar dar um fôlego à industria do turismo que ficou parada por tanto tempo? Achar esse equilíbrio tem sido um grande desafio.
Esse feriado de 7 de setembro a gente viu inúmeras praias lotadas e denúncias de desrespeito as regras de distanciamento por todo o país. E assim como muitos brasileiros, eu também tentei aproveitar meu feriado. E esse é um relato do que eu vi.
Estabelecimentos cumprem as regras, a população não respeita
Sai de Ubatuba às 7h da manhã de sábado para ir à uma praia que fica entre Ubatuba e Paraty. O estacionamento estava vazio e consequentemente a praia também. Mas as barracas já se preparavam para receber um grande número de clientes e alguns bares distanciaram as cadeiras de praia como é recomendado. Por algumas horas a gente aproveitou aquele espaço de terra distante de outras pessoas que chegavam aos poucos. Ao modo que a hora avançava já não era possível proibir as pessoas se instalarem entre esses intervalos de areia e isso fez a gente ir embora ao 12:30, um pouco frustrados porque foi quando o sol começava a sair. No caminho pro carro, vimos pessoas fumando narguilé e soltando fumaça dentro da multidão que se aglomerava, umas em cima das outras e claro, raríssimo eram os que usavam máscara.
Seguimos em direção à Paraty que, durante um dia de sol, fica com as ruas bem vazias porque todo mundo esta na praia. Assim deu pra conhecer a cidade na calma e sem muito stress de multidões, a máscara começava a incomodar porque fazia muito calor. Em Paraty a gente encontrou alguns restaurantes que ainda trabalham como cardápio físico e não disponibilizava álcool em gel nas mesas. Comemos apenas em lugares que a única possibilidade de ter acesso ao cardápio era via QR, google docs ou até acessando o Instagram o estabelecimento.
Escolhemos uma pousada para pernoitar e voltar para Ubatuba no outro dia. Era obrigatório preencher um formulário da prefeitura informando data de entrada e saída, se apresentamos sintomas ou até se já tivemos Covid. A pousada não estava disponibilizando arrumação nos quartos enquanto a nossa estadia estava ativa. Como imaginávamos, se todos estavam na praia durante o dia, com certeza a noite as ruas iriam lotar. Ficamos na pousada, pedimos comida por aplicativo para não ter que sair.
A população cumpre as regras, os estabelecimentos não respeitam
No dia seguinte tentamos uns traslado de barco para uma praia próxima de Paraty com uma agência chamada Eco Turismo Paraty. A regra na cidade é de 50 % da capacidade para barcos menores e ao chegar ao porto notamos que a agência tinha vendido um barco com 100% da capacidade e graças a consciência de todos no barco, voltamos na agência para solicitar o dinheiro de volta. Não houve stress da parte de ninguém e todo mundo reconheceu que estávamos em perigo, até o dono da agência não fez confusão para devolução da quantia. E esse foi um dos melhores exemplos de como a população pode ser aliada nessa fiscalização.
Na volta pra casa, fizemos uma pausa para almoçar em um restaurante em Itamambuca que estava quase vazio. Para minha surpresa o garçom nos recepcionou com um “não precisa usar máscara, só se quiser” – como assim só se quiser?
Viajar na pandemia: precisamos aceitar que as coisas precisam ser adaptadas
A gente aceitou que para poder viajar numa situação como essa não dava pra fazer tudo como era antes e a frustração foi diminuindo. As máscaras e o distanciamento foi o menor dos problemas, escolher um restaurante de acordo com os protocolos não foi tão difícil assim mas foi frustrante. Viajar perdeu o encanto ao mesmo tempo que diminuir o ritmo da viagem foi um exercício interessante de não precisar fazer absolutamente TUDO que a cidade oferece.
Não sei classificar se isso foi uma viagem ou apenas uma escapada de casa. Mas eu achei valioso ver o mundo la fora com os próprios olhos, ver o desrespeito e também bons exemplos de que nem tudo esta perdido. Não me senti insegura, tentei fazer o máximo que podia para aproveitar e a conclusão que cheguei foi que: não da pra viajar “com todos os cuidados possíveis” porque simplesmente não depende só de você. Precisei me retirar ou evitar lugares e passeios, mudar horários de visitação para desviar da multidão de uma forma que não faria numa situação normal “só porque ta cheio”.
Foi frustrante e nem sei se farei novamente antes de uma vacina. A gente precisa de uma cadeia de turismo responsável se quiser sobreviver, a gente precisa de turistas conscientes de que não da pra fazer tudo que a gente fazia antes, precisamos de fiscalização de entrada de pessoas nas praias, algo que realmente faça a gente acreditar que é possível retomar o turismo sem sacrificar mais vidas.
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