sunset vancouver

Fiz meu primeiro e único intercâmbio aos 19 anos, era março de 2006 e eu tinha acabado de passar numa faculdade federal mas devido as greves que aconteciam minha entrada tinha sido adiada para 2007. Nesse tempo fiquei me perguntando o que eu iria fazer com esses meses vazios… Eu sempre quis estudar fora mas meu pai nunca deixava, me falava que eu era muito nova pra sair por aí e pra tão longe. Mas eu tinha achado a oportunidade de barganhar uns mesezinhos lá fora, passei na federal hahaha bingo! Ele cedeu e eu fui para o Canadá porque era mais barato que os USA, nem sei porque nem considerei ir pra Europa, mas enfim. O máximo que consegui nessa barganha? 3 meses. Mal sabia ele que chegando lá eu descobriria que poderia mudar minha passagem de graça e mudaria pra passar mais 1 mês haha  ¯\_(ツ)_/¯

intercâmbio

eu em janeiro de 2007 alimentando sonhos de voltar em Vancouver em 2010

Lembro que eu me despedi da minha mãe na calçada com um abraço e um pouquinho de choro, parecia tristeza mas na real até hoje não sei o que senti na hora. Peguei meu voo de Recife pra São Paulo e chegando em São Paulo meu voo pra Toronto foi cancelado, eu liguei chorando pra casa dizendo que tava com medo porque iriam me colocar num hotel próximo e só amanhã eu iria embarcar. Escutei da minha mãe: “- e ta chorando porque?” kkkkkk fui pro hotel e pela primeira vez estava sozinha de fato. Eu com meus 19 anos e muita liberdade o que fiz: FIQUEI PULANDO NA CAMA HAHAHA no outro dia embarquei, pedi uma coke no avião, passei pela imigração dizendo que “I come to study english” hahaha na escola, tentei explicar que cheguei 1 dia atrasada por “my flight have been cancel” eu tava precisada de ti, Canada. Pena que desperdicei 70% do que o país tinha pra me oferecer, meu inglês nesses 4 meses melhorou uns 2% e eu vou explicar o por quê.

Eu só me envolvi com brasileiros

Naquela época a gente já tinha internet mas a informação ainda era muito restrita e por isso eu nunca tinha escutado de ninguém o quanto perigoso é a gente ir fazer intecambio e só fazer amigos que fala a mesma língua que você. Mas é aquele lance do medo do desconhecido, era outra língua, outra cultura e ter pessoas que poderiam me ajudar, na minha língua, minimiza o desesepero de se sentir sozinha. Mas alguém aí já cresceu sem perrengue? Porque eu não. Hoje eu vejo o quanto todas as vezes em que eu me senti desconfortável, solitária e perdida me forçou a me mover, porque eu dependia de mim. Eu tinha saído de uma zona de conforto chamado Casa para ir pra outra zona de conforto chamada Português. Erro clássico de quem vai fazer intercâmbio, não julgo quem volta pra casa falando um inglês 2% melhor,  mas abram o olho, é muito investimento pra pouco aproveitamento. O melhor do BRASIL é o Brasileiro, sem dúvida, mas se você quer aprender inglês fora dele o melhor que a gente pode achar é distância de todos eles.

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meu cabelo HAHAHA

Parece outra vida, parece que tudo eu vivi depois de Vancouver se passou com outra pessoa porque tudo que eu to relatando aqui pra vocês é de uma Rebecca muito ingênua e arrisco dizer: bem filhinha de papai. Eu descobri lá uma liberdade e uma responsabilidade de cuidar só de mim, e 11 anos depois, eu voltei pra mesma cidade que me fez descobrir o mundo. Levei o mesmo casaco que eu usei em 2006 (ainda bem que ele ainda deu em mim haha) Porém infelizmente em 2006 eu só tinha uma cybershot então eu tenho poucos registros desses 4 meses que passei por lá, mas recriei algumas fotos e o exercício revisitar os lugares e tentar tirar EXATAMENTE e a mesma foto foi bem divertido.

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A primeira constatação foi que: graças a Deus que eu me assumi morena porque loira não tava dando não hahaha A primeira recriação eu fiz na Granville Island, onde fica o mercado municipal de Vancouver. Nesse dia eu tinha terminado um dos primeiros dias de aula e fui andar pela cidade com quem? meus amigos brasileiros, claro. Era outubro e fazia talvez uns 20ºC, eu não tinha noção nenhuma do que era sentir frio e lembro que comentei com um deles: “nossa, ta muito frio, deve tá uns 10 graus agora”. Tava sim, fia.

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A outra constatação foi que as roupas de inverno me deixaram parecer bem mais gorda do que eu era, mas em 11 anos engordar só 5kgs é uma vitória, correto? Essa foto quem tirou foi o meu host father, que era assim que a gente chamava as famílias que recebiam a gente pra fazer aquele intercâmbio cultural. O que eu não sabia até então é que existia um comércio por trás dessas famílias, muitas delas recebiam os estudante não pelo prazer de ter esse intercâmbio mas só para receber o que a gente pagava pra ficar na casa deles. A minha família era filipina e só falava tagalog (idioma deles lá), a TV inclusive só era programa em Tagalog e eu, com 1 mês na casa deles pedi pra sair e fui fazer o que? morar com meus amigos brasileiros, claro hahaha

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Eu lembro que pouco depois que eu fui embora esse teto do BC Place despencou e acho que por isso o teto dele tem esses arcos hoje em dia. O BC Place é um estádio e foi sede das cerimônias de abertura e de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010. A recriação eu tirei por acaso, a gente tava passando e eu lembrei “eu tinho uma foto aqui!” tava quase escurecendo mas valeu né? Fato interessante desse dia? não temos, mas quem tirou a foto foi quem? o meu (ex) namorado brasileiro, claro hahaha porque até isso eu arrumei.

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Eu não entendi essa minha posição, por isso não me julguem. Até aqui vocês já puderam notar que eu não tomei as melhores decisões com 19 anos né? hahaha A coxa duplicou de tamanho? sim. E aparentemente blusa com recorte nos ombros é algo que não saiu de moda ou eu que cheguei na época que eu posso dizer que “na minha época isso era moda, não acredito que voltou!” Nunca saberemos. Fato interessante sobre esse dia? Foi mesmo dia da primeira foto, que claro eu estava acompanhada dos meus amigos brasileiros.

E agora pra mim, vem a foto mais impactante:

preparados?

já!

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VRAAAAA! Eu acho que me gosto mais hoje, o que vocês acharam? haha e sim, eu tive noção do cabelo que eu tinha e taquei tinta nele na metade do intercâmbio 🙂  e a única recriação que eu consegui fazer com o casaco, ele mal saiu na foto 🙁 mas fica o registro eu usando ele aqui:

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É um privilégio ter tido essa oportunidade tão jovem, em ter nascido numa família que pode me dar essa chance sem maiores apertos. E talvez por ter essa oportunidade “tão fácil” eu não soube dar o seu devido valor, não pude extrair disso os 100% que todos esperavam que eu deveria ter feito. Aprendam com meu erro, se isso valeu de alguma coisa, se você vai fazer intercambio, vá e se entregue à ele, evite contato com sua língua materna, se feche na cultura deles, viva como eles vivem. A imersão é essencial pra quem quer aprender uma nova língua e quando eu voltei pro Brasil perdi oportunidades de trabalho porque eu não conseguia me expressar bem. E inclusive, quase perdi a minha vaga no mestrado porque eu simplesmente não tinha o inglês suficiente para cursa-lo, já imaginou o desespero que eu fiquei? Mas deu certo, eu tive que correr atrás do prejuízo anos depois. Pagando professor particular e estudando feito uma desesperada pra fazer a prova de proficiencia. Mas eu poderia ter evitado tudo isso, compreende? Só me considerei fluente quando, no mestrado, eu passei 6 meses isolada do Português.

O inglês é algo fundamental nas minhas viagens e também no meu trabalho. Me sinto mais confiante passando por uma entrevista na imigração e menos medrosa se algo de grave me acontece. É a língua mais aceita no mundo então o conselho que eu do pra quem tem a oportunidade de ir estudar, vá para estudar. E esqueça um pouco da sua vida por aqui, se necessário se desligue mesmo. Quando eu fiz meu mestrado, eu evitava até mandar aúdio no whatasapp pros meus amigos e pra família pra não ter que falar o Português. Necessidades extremas, pedem medidas extremas 🙂

Foi um execício incrível foi me ver 11 anos atrás. Eu, que sempre tive medo de envelhecer ao ver essas fotos fiquei feliz, não porque não to tão diferente esteticamente mas sim porque eu sou outra pessoa dentro de mim! É algo incrível olhar pra trás. Com 19 anos anos eu via o tempo como algo que marcaria minha pele, com 30 eu vejo que é sobre poder ser dona de si, ter noção que cada escolha pode mudar complemente o rumo da minha vida e a melhor parte é que essa mudança pode ser na hora que eu quiser. É poder me julgar com 19 anos e querer dar umas tapas e parar de ser moleque porque teu pai ralou pra caramba pra te dar essas férias aí. A liberdade que eu experimentei em Vancouver viciou e quando voltei pro Brasil eu lembro que eu tinha aquele curso superior para fazer e eu fiz DE TUDO para acelerar ele porque eu não conseguia mais me ver presa a nada (e às vezes nem a ninguém). Voltar num país tão distante e com os meus próprios recursos era algo que eu nunca imaginei que eu conseguiria, porque eu simplesmente não acreditava em mim aos 19 anos. Meu intercâmbio infelizmente não foi usado para aprender inglês mas foi a chance que a vida meu deu pra eu provar o gostinho de liberdade que eu nem sabia que precisava tanto pra ser feliz. 

 

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Escrito por rebecca
Ex- futura arquiteta, antiga Diretora de Arte e Mídia, atual Analista de Marketing Digital e para sempre Nômade.