Paris, 16 de novembro de 2015
Eu morava em Paris ha alguns meses e poderia ser mais uma segunda feira que eu acordaria com dificuldade de abrir os olhos por ter ido dormir tarde demais na noite anterior depois de uma viagem sensacional que fiz no final de semana. Ao sair do metro, estaria no centro de Paris e iria sorrir completamente apaixonada pelo o que a vida me trouxe.
Eu morava ha alguns metro do Stade de France mas naquela noite eu não fui pra casa, eu fui pro aeroporto. Na noite do dia 13 de novembro de 2015, por volta das 20:30 eu já estava voando e com o celular desligado. Algo terrível acontecia na cidade e eu estava desconectada com o mundo. Quando o avião pousou, nosso avião foi cercado por policiais e cachorros farejadores. Pensei: Que país seguro é a Suécia! Mas eu não tinha noção de como um avião vindo de Paris naquele momento, era uma ameça à eles.
Foram 180 pessoas mortas numa única noite e 350 ficaram feridas. Uma cidade conhecida pelo amor dos namorados se derramava em sangue. O primeiro toque de recolher desde 1944, também foi posto em prática, ordenando que as pessoas saíssem das ruas de Paris. Eu, ainda sem acreditar do que estava acontecendo respondia as milhões de mensagens que recebia no facebook “eu estou bem”.
Aquela segunda feira, dia 16, a cidade acordou triste, silenciosa. A vida continuava, as ruas estavam cheias quand même. Entrei no escritório e o tão natural bonjour cantado “bonjooooour” deu lugar ao “salut” desanimado. As pessoas estavam de preto, um silêncio que incomodava aquela agência sempre tão agitada por risadas. Eu tinha lido no jornal que o país faria 1 minuto de silêncio ao meio dia, mas eu sou brasileira né? achei que era “caô”.
Era 11h da manhã e um email da diretora convida todos a pararem seus trabalhos ao meio dia, se levantarem em suas mesas e ficarem 1minuto em silêncio. Ninguém conhecia uma só pessoa que foi morta, eu vi uma menina que chorava baixinho. Um silêncio desconfortante, uma sensação que vai me marcar pra sempre. O país inteiro parou. Uma menina depois me perguntou se eu não estava com medo… eu nem soube dizer o que eu sentia. Naquele minuto eu cai na real que eu estava tão acostumada em ver a morte nos noticiários que não me chocava mais, que dia triste pra ser brasileira.
Mas o luto francês me ensinou e tudo que vi naquela segunda feira foi uma lindas que ja vi na vida. E vou dizer por quê….
Tocaram no bem mais precioso que eles têm, seu povo. A compaixão que tomou conta desses franceses é algo que certamente nós deveriamos aprender e nunca criticar pra não dizer invejar né? A mídia se voltou totalmente para os atentados de Paris, sim! Absorvi como essas pessoas encaram uma tragédia, doeu em todo mundo. Quem chora é uma nação. Políticos se unem sabe? François Hollande e Nicolas Sarcozy uniram forças pra achar e punir os culpados, menos de 48h o contra ataque começou, é guerra. Independente de que isso seja correto ou não, o presidente da república tomou uma iniciativa. E eu aqui achando tudo isso surreal. Esses mesmos franceses abriram as portas de sua nação para os sírios, os africanos, os árabes, pra mim.
Em um grupo do facebook, inúmeras eram as publicações de pessoas doando seu tempo. Eles ofereciam serviços de baby sitter para quem precisava buscar um desaparecido ou para visitar hospitalizados. Gente que virou a noite ajudando desconhecidos em sua própria casa, mensagens de amor em todas as partes. Flores, velas, partout. Essa mobilização é incrível e é contagiante, é impossível ficar indiferente, é impossível não comparar com a minha cultura onde as pessoas tem o coração tão bom mas diante tanta desgraça, todos os dias a gente fica inerte.
Brasil, quando a gente fala que a França é primeiro mundo, é disso que a gente ta falando: Compaixão.
Depois do trabalho, voltando pra casa… era impossível não parar e sentir aquela dor que estava em cada esquina.
Desde esse dia meu coração se enche de muitas questões de como o mundo está todo errado e a cada dia que passa eu tenho pressa de conhecê-lo mais, porque ele está se acabando, ele esta SE acabando e amanhã eu posso não ta aqui pra contar o quanto ele é íncrivel.
#prayfortheworld