Esse era meu maior medo quando decidi te ter mesmo sem o desejo de ser mãe, repassar meus traumas para alguém que não tinha nada a ver com as minhas escolhas. É muito difícil viver um personagem, digo um personagem porque eu de fato não gosto de ser mãe… entenda, eu não gosto da maternidade e tudo o que ela impõe, mas eu amo você.
Eu sei que você não tem absolutamente nada a ver com minhas escolhas, angústias e dores. Você não tem absolutamente nenhuma culpa de ter uma mãe como eu, apenas azar. Você é uma criança adorável, engraçada e divertida… é realmente muito fácil de amar. O que eu não amo é a exaustão.
Das noites mal/não dormidas e a menor possibilidade de pausa para descansar de dias intensos. Das oportunidades que eu tenho que deixar passar porque não posso te deixar sozinha com seu pai (às vezes até deixo porque ele é seu pai mas a culpa bate muito forte e aquele momento que deveria ser incrível, não é). Das viagens que involuntariamente você acaba dificultando ou até, quando elas acontecem, suas birras e problemas com a alimentação me estressam em um nível que tudo o que eu queria era não ter viajado. Eu sei, birras são normais mas elas esgotam um adulto, esgotam porque são recorrentes porque a gente anda tão cansado que o mínimo de descontentamento seu já cria um enorme peso mental em mim. Eu não amo ter sempre uma lista de afazeres que parece nunca ter fim: a fralda noturna tá vazando, vou comprar outra. Ela tá rejeitando feijão, vou tentar lentilhas. Hoje acordou com dor no ouvido e acabou o ibuprofeno, preciso ir à farmácia. Falando em dor, quando adoece… a gente fica desnorteado. Um pouco porque é horrível te ver sofrendo outro pouco porque é muito difícil explicar no trabalho que mais uma vez preciso me ausentar.
Você deve tá se perguntando se eu não gosto de cuidar de você, né? Eu gosto, é legal ser seu ponto de amor sempre quando você está chateada com algo e me pede um abraço e parece que aquela dor se vai. Eu me sinto uma super heroína mas na verdade essa super heroína está destruída e nessa equação entre cuidar de você e se manter o em pé, o amor que sinto por você me faz continuar. De novo: você não tem culpa DE NADA. Eu iria odiar essa exaustão se eu fosse mãe de qualquer outra criança.
Te falo mais… eu não gosto do meu corpo e o que ele se tornou, eu olho pra ele e fico com nojo (de verdade). É muito frustrante não poder mudar ele de forma natural porque eu simplesmente não consigo fazer exercício como algo prazeroso uma vez que na noite anterior eu dormir 4h. Eu não gosto de não ser eu, não ser a viajante que eu sempre sonhei em ser, de ser sozinha e feliz.
Hoje te escrevo no meu momento mais solitária, eu que sempre amei estar sozinha mas me supria com a minha própria companhia. Mas a sensação que eu tenho é que eu não tenho mais a mim pois não consigo cuidar do meu corpo, não compro mais roupas ou sapatos que eu gosto, não viajo pros lugares que eu quero, nem meu trabalho eu trabalho pra mim. Eu, egoísta? talvez seja mesmo, a gente só tem UMA VIDA e se não conseguir ser feliz nela, melhor não vivê-la.
Queria muito te mostrar que pra ser mãe a gente antes era mulher e QUER CONTINUAR sendo mulher, sonhadora, viajante. Mas não da, filha… simplesmente não dá. Que um dia você entenda que o que você sentia não era rejeição, era só a minha dor que irradiava de mim e eu inutilmente tentava te proteger.
Falhei, né? me perdoa.
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