Desde muito pequena eu sabia que algo não estava certo em mim e depois de anos (de terapia) eu entendi que o que não estava certo era onde eu estava inserida. Eu nunca me encaixava nos lugares onde queria me fazer encaixar: na família onde eu nasci, na igreja, no que esperavam de mim e principalmente no futuro que QUERIAM trilhar pra mim.

Algo me incomodava e tudo começou a se encaixar quando eu sai de casa e descobri um mundo lá fora. Tive muito sofrimento, claro, afinal por mais que os outros tentassem me encaixar em algo, eles o faziam por achar que aquilo era o melhor pra mim… hoje entendo que eles não me odiavam, eles só via UM mundo possível: o deles.

Ao sair de casa eu descobri muita coisa e me descobri. Me permiti viver inúmeras coisas, algumas bobas como ir numa festa no centro do Rio e voltar bêbada de onibus (e nem lembrar como eu cheguei ali) outras bem ousadas como mudar de país sem a menor ideia do que me esperava, eu só queria ir.

Eu sinto falta dessa minha coragem… eu era uma menina muito sonhadora e ousada, eu não tinha muito medo das coisas, eu só ia. Talvez eu não tinha muito a perder, sei la. Mas lembro de cada momento de crise que eu sentia que era o momento de mudar e na semana passada eu senti esse incomodo de novo. Meu coração dizia que não dava mais pra continuar casada com seu pai.

Tantas coisas já me passaram pela cabeça desde a última semana…Eu sempre achei que tinha em seu pai um apoio, um homem que me olhava como a mulher que eu busquei por tantos anos ser e principalmente um homem que se orgulhava da mulher que eu era. Um mulher que incomoda tantas pessoas com certeza é uma mulher que não se cala e eu era essa mulher.. eu gostava de FALAR, falar da vida, das minhas dores, dos meus absurdos, das histórias engraçadas que me aconteciam. Eu via a vida como um grande livro e ensinamentos, sempre que acontecia algo drástico, beleza: aprendi. As vezes até ria do acontecido e bola pra frente.

Na semana passada eu encerrei o único hobby que eu tinha: o instagram. Me doeu porque parecida que estava matando o restinho de mim que ainda restava desde de quando você nasceu, não sei te explicar mas ali eu encontrava o encaixe que em toda a minha vida eu busquei. O encaixe com pessoas desconhecidas mas que sofriam as mesmas dores que eu e se divertiam com minhas histórias, as vezes até mais do que eu. Era realmente um mundo parelelo que eu construi para mim. Por que eu deletei? Porque seu pai me disse que pessoas iam falar de mim pra ele e com uma cara de vergonha (de mim) ele sequer retrucava essas pessoas.

Eu casei com alguém que não via a vida como eu…não ria das desgraças, não aprendia com elas. Um homem que tem relações rasas, que não gostava de falar nem se aprofundar. E eu, que sempre gostei de SENTIR, comecei a sentir tudo sozinha, sofrer sozinha, falar sozinha. Nessa de estar com alguém mas estar sozinha eu passei a vomitar minhas dores pra ele, inutimente, em uma tentativa desesperada de chamar atenção pra uma coisa: eu só queria colo. Colo que nunca recebi de ninguém. O que sempre me deram não eram o que eu precisava, era o que eles achavam que eu queria.

Eu sempre fui muito silenciada, a minha necessidade de FALAR nunca foi tão gritante. Eu poderia enlouquecer se guardasse tantas coisas pra mim e foi numa dessas que eu quase enlouqueci de verdade.

“Você não tem condições de cuidar da Catarina” e “Eu não aguento mais você reclamando da Maternidade” são duas frases que não saem da minha cabeça. Eu achava que tinha alguem que apoiava e via minhas dores. No dia a dia só a gente  entende nossas dores e preocupações e nem a pessoa mais próxima consegue entender a dimensão da ferida que temos. Um homem que vive 24h por dia comigo é capaz de dizer isso, imagina quem não vive? Imagina o que as outras pessoas falam de mim… Eu não ligo sobre o que as pessoas falam de mim mas liguei profundamente quando ELE disse isso de mim. Ele era a única e talvez a última pessoa que eu esperava escutar isso e me dei conta: eu sempre serei sozinha.

A minha fica caiu ai, ele tinha vergonha de mim e do que eu fazia… nunca tive seu apoio. Ao contrário do que eu fazia pela imagem dele por lá, ele silenciava. E conseguiu, assim com muitas pessoas que passaram na minha vida, me silenciar também.

Catarina, você pode crescer e formar a sua família. Eu continuarei sozinha, sabe por que? porque é meu lugar de conforto onde eu me aceito e me orgulho de quem eu sou, essa aprovação eu ja tenho em mim. Esperar essa validação de outra pessoa foi como um tapa na cara super forte, me senti enganada por mim mesmo que acreditei. Minha maior dor hoje é não ter me escutado.

Eu queria muito que você tivesse orgulho de quem eu sou, mas de verdade filha, eu não quero acreditar que isso um dia irá acontecer porque não quero me machucar tanto quando me machuquei esses dias.

te amo

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Escrito por rebecca
Ex- futura arquiteta, antiga Diretora de Arte e Mídia, atual Analista de Marketing Digital e para sempre Nômade.